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Formação de redes de apoio e programas de incentivo auxiliam mulheres em papéis de liderança nas empresas

Comandada por empreendedoras de habilidades complementares, caso da Muda Meu Mundo mostra como compromisso com a diversidade ajuda a atrair profissionais altamente qualificadas

A startup cearense Muda Meu Mundo é um exemplo concreto do potencial da colaboração entre lideranças femininas. Fundada em 2019, por Priscilla Veras, 40 anos, a empresa oferece um marketplace que conecta pequenos produtores rurais a grandes cadeias de vendas e distribuição de alimentos. Com mais de 700 famílias cadastradas, o sistema da empresa elimina diversas barreiras logísticas de agricultores familiares, permitindo a entrega de alimentos no mesmo dia e facilitando pagamentos e acesso a crédito.

Participante do Itaú Mulher Empreendedora, iniciativa do Itaú focada no apoio e desenvolvimento de negócios criados por mulheres, Priscilla tinha como um dos principais desafios o desenvolvimento de uma plataforma que disponibilizasse tecnologias de ponta em uma interface simples e intuitiva. Durante o programa, conheceu Laís Xavier, na época CEO da edtech Mídias Educativas que terminou se tornando a sua sócia e CTO (Chief Technology Officer).

Com as competências de gestão e tecnologia alinhadas, a Muda Meu Mundo deu início a um planejamento de expansão que resultou em um crescimento de 400% no último ano — a operação atual impacta as vidas de mais de 3.500 famílias e gera um aumento de renda direto de 100% dos produtores. “O desenvolvimento de uma tecnologia simples e eficiente era um de nossos principais gargalos. Encontrar uma sócia que tivesse essa visão de produto e estivesse alinhada aos meus valores foi essencial para impulsionar a operação”, afirma Priscilla.

Além do alinhamento de valores, a empreendedora aponta o compromisso com a diversidade como um dos principais diferenciais de uma empresa comandada por lideranças femininas. Na prática, essa visão pode ser observada na priorização de contratação de mulheres, sobretudo mães em processos de recolocação profissional. “Mais do que uma responsabilidade corporativa, esse posicionamento ajuda a atrair profissionais altamente qualificadas, mas que estão passando por um período difícil de reinclusão no mercado de trabalho”, afirma.

No longo prazo, o posicionamento também incentiva a formação de um ambiente mais criativo, flexível, acolhedor e seguro. Além de atender novas demandas de colaboradores, tais características mostraram-se fundamentais para acompanhar a evolução da agenda de legislações trabalhistas — é o caso da nova lei 14.457/2022, que incentiva a contratação de mulheres e obriga as empresas a promoverem treinamentos de combate ao assédio sexual.

Desafios, competências e aprendizados

Entre os desafios enfrentados por empreendedoras, Priscilla aponta as dificuldades de negociação com fornecedores e a captação de recursos com investidores privados. “As mulheres enfrentam muito mais dificuldades de acesso a capital de risco, por exemplo. É como se a gente precisasse se provar a todo o momento para parceiros, clientes e investidores”, diz.

Para superar esses desafios, ela recomenda a organização de gestão e a formação de uma visão sistêmica da empresa. “Precisei aprender a analisar o negócio em todas as suas nuances e frentes de atuação, do planejamento estratégico ao crescimento financeiro. Ter os números mapeados e os processos estruturados foi essencial para que eu chegasse mais confiante e segura em rodadas de negociação”, afirma.

Para outras mulheres que estão começando a sua jornada empreendedora, Priscilla recomenda a formação de redes de apoio, a busca por programas de incentivo e, principalmente, adotar uma estratégia focada nas necessidades do cliente. “É preciso evitar o impulso de tentar encontrar a solução antes de se apaixonar pelo problema que você quer resolver. Nem sempre aquilo que achamos que vai ser bom é a melhor alternativa para o cliente final”.